Tecnologia Assistiva: Criatividade para a inclusão

Tecnologia Assistiva: Empresas brasileiras criam produtos e programas destinados a facilitar a vida de pessoas com deficiência e integrá-las de fato à sociedade.

 

A criação de novas tecnologias está facilitando a inclusão de pessoas com deficiências físicas e mentais na sociedade. Negócios de impacto social focados em tecnologia assistiva têm conquistado mercados nacionais e internacionais, além de ganhar prêmios e reconhecimento dentro e fora do Brasil. As empresas nacionais Livox, Hand Talk, Playmove e Cycor são exemplos dessa tendência.

Quando se fala em oportunidade de negócio e de impacto social dentro desse setor, o foco é um mercado potencial de cerca de 12,8 milhões de brasileiros. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), divulgada em 2015 pelo Instituto Brasileiro de Geo­grafia e Estatística (IBGE), 6,2% da população do país­ possui algum tipo de deficiência. A deficiência vi­sual, a mais representativa, atinge 3,6% dos brasileiros. Em seguida vêm as deficiências física (1,3%), auditiva (1,1%) e intelectual (0,8%).

A Lei de Inclusão da Pessoa com Deficiência (lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015), entre outras medidas, determinou que as escolas públicas e privadas devem se adequar para praticar a inclusão de fato. Soluções tecnológicas como as desenvolvidas pelos negócios de impacto social têm papel importante nesse contexto, tanto no Brasil como em outros países. Daí a necessidade de se criar, produzir e comercializar equipamentos que facilitem a vida das pessoas com deficiência e lhes permitam uma participação maior na sociedade, no aprendizado e no mercado de trabalho.

Movido pela necessidade de se comunicar com a filha Clara, que tem paralisia cerebral, o empresário pernambucano Carlos Pereira desenvolveu o Livox, um software para tablets com o sistema operacional Android que permite a alfabetização de pessoas com algum tipo de deficiência na fala ou nos movimentos. Lançado em 2011, o software conta hoje com uma base de mais de 22 mil usuários em todo o Brasil. Por permitir o uso de diferentes idiomas, o programa está sendo bem aceito em outros países.

O resultado dessa internacionalização foi o recebimento de diversos prêmios, como Melhor Software de Inclusão Social do Mundo, da Organização das Nações Unidas (ONU), Solução com Maior Impacto Social, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Melhor Aplicação da Categoria Educação (World Cup Tech Challenge, Vale do Silício), entre outros. Agora o Livox está sendo aperfeiçoado nos Estados Unidos, com o objetivo de se desenvolver uma nova tecnologia que reduzirá em até 80% o tempo de resposta da pessoa com deficiência no processo de comunicação.

Tradutor de sinais

No Brasil, 9,7 milhões de pessoas têm deficiência auditiva. Foi para esse público que, em Alagoas, Ronaldo Tenório e dois amigos e sócios – Carlos Wanderlan (analista de sistemas) e Thadeu Luz (arquiteto especialista em 3D) – se uniram para criar a Hand Talk, um aplicativo que funciona como um tradutor mobile e dicionário de bolso gratuito ao converter texto e áudio em Libras, a linguagem de sinais brasileira. Por meio de uma parceria com o governo federal, a solução está presente em milhares de tablets em escolas da rede pública, facilitando a comunicação entre alunos e professores.

A Lei de Inclusão da Pessoa com Deficiência (lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015), entre outras medidas, determinou que as escolas públicas e privadas devem se adequar para praticar a inclusão de fato. Soluções tecnológicas como as desenvolvidas pelos negócios de impacto social têm papel importante nesse contexto, tanto no Brasil como em outros países. Daí a necessidade de se criar, produzir e comercializar equipamentos que facilitem a vida das pessoas com deficiência e lhes permitam uma participação maior na sociedade, no aprendizado e no mercado de trabalho.
Outra oportunidade de mercado identificada são as empresas, atentas à importância de tornar seus canais acessíveis (como sites, totens informativos, etc.) à comunidade surda. Essa necessidade vem do fato de que quase 70% dos surdos têm dificuldades em compreender o português. Nesse caso, basta acrescentar no site uma aba do Hand Talk para fazer a tradução automática do português para Libras. A criação do programa também tem rendido à empresa prêmios no Brasil e no exterior. O Hand Talk foi eleito o melhor aplicativo de inclusão social do mundo no World Summit Award Mobile, prêmio criado pela ONU cuja cerimônia é realizada em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.

Além disso, Ronaldo Tenório foi eleito pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) como um dos 35 jovens mais inovadores do mundo (Innovators Under 35). O Hand Talk já impactou mais de 6 milhões de pessoas.­ Em 2017, ele se tornará uma ferramenta global ao incluir a Língua Americana de Sinais. E outros produtos estão sendo desenvolvidos, como um tradutor simultâneo para Libras, em tempo real, que faz uma triangulação entre o deficiente auditivo, o intérprete e uma terceira pessoa (médicos, prestadores de serviços, funcionários públicos, etc.).

Educação eletrônica

A Playmove, de Blumenau (SC), tem como principal produto a Playtable, uma mesa eletrônica digital com jogos e aplicativos educativos. Além de educar, a Playtable estimula a socialização de crianças autistas e com dificuldades psíquicas e motoras. Segundo Marlon de Souza, cofundador da Playmove, a ideia é fazer as crianças com deficiência interagir com as outras de maneira igualitária. Um exemplo é a inclusão da linguagem Libras de sinais no aplicativo Contador de Histórias, desenvolvido para a Playtable, a fim de permitir que crianças surdas também possam acompanhar as narrativas.

A PlayTable já é usada por mais de 800 escolas brasileiras, atingindo cerca de 300 mil crianças. Neste ano, a Playmove inicia a exportação do produto para os EUA, Europa e países árabes. Outro destaque da tecnologia de inclusão é a Cycor Cibernética, de Curitiba (PR), que busca popularizar a reabilitação física desenvolvendo equipamentos com custo mais baixo. Segundo a neuroengenheira Michele de Souza, fundadora da empresa, a Cycor atua com dois produtos principais: a prótese de mão e o exoesqueleto, com preços menores que os dos similares importados.

Desde janeiro de 2017, a Cycor comercializa uma placa eletrônica que permite fazer qualquer mecanismo funcionar, obedecendo a dados de comando do corpo humano. “No momento, é a única placa disponível no mercado para integrar o ser vivo à máquina”, diz Michele. “Ela possibilita o desenvolvimento de cadeiras de rodas e exoesqueletos para tetraplégicos.” A Cycor também está transformando as tecnologias desenvolvidas em kits educacionais para a montagem de próteses de mão. O kit inclui a placa Argedon Robotics, hardware de inteligência artificial capaz de ler os sinais emitidos pelo cérebro e transformá-los em sinais mecânicos para efetuar controles diversos.

Ainda da Cycor, o Vocalizador TouchVox é um equipamento com bandeja de comunicação digital para pessoas que não falam. Na área de próteses, há o joe­lho digital AdLeg, que, acoplado a uma prótese mecânica comum, transforma-a em eletrônica, e a prótese mioelétrica inteligente de mão My Hand. Já o Cycor é um robô exoesqueleto para pessoas paraplégicas ou que precisam apenas de ajuda para caminhar. Como se vê, a lista de criações brasileiras voltadas à inclusão dá pistas de crescimento contínuo.

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