Termos capacitistas para tirar do vocabulário

Em primeiro plano, 3 bonecos de sapo de pelúcia: um tampando os ouvidos, outros tampando os olhos e outro tampando a boca com as mãos. Em segundo plano, 3 balões de fala cada um com uma frase: "Tá dando uma de João sem braço?, "Que mancada!", "Você é retardado?". Uma estrela roxa com o texto "Termos capacitistas para tirar do seu vocabulário".

Você já ouviu falar em termos capacitistas? Eles estão relacionados ao vocabulário discriminatório dirigido a pessoas com deficiência e neurodivergentes.

No artigo de hoje, entenda quais os termos capacitistas que devem ficar fora do seu vocabulário. Confira!

 

Termos capacitistas e Setembro Verde

No mês da inclusão, dedicamos os últimos dias do Setembro Verde para abrir o diálogo sobre o cuidado que devemos ter com vocabulários capacitistas.

A palavra capacitismo vem do termo em inglês ableism e significa o preconceito direcionado às pessoas com deficiência, seja ele de maneira óbvia ou de forma velada, com a implicação de que essas pessoas não têm capacidade para fazer algo. O capacitismo pode estar em palavras e até em pequenas ações, por isso, é preciso que toda a sociedade esteja atenta para mudar certos comportamentos. 

Assim, usar termos capacitistas significa olhar para pessoas com deficiência com superioridade, como se elas fossem incapazes ou tivessem menos valor dentro da sociedade. Significa manifestar um preconceito social por suposição.

Entretanto, a discussão sobre o capacitismo no Brasil é recente. O Estatuto da Pessoa com Deficiência, por exemplo, não traz o termo em suas normativas, apesar de definir e orientar sobre discriminações. 

 

Como o capacitismo atinge as pessoas com deficiência

O capacitismo atinge a pessoa com deficiência de diferentes maneiras, desde o acesso inclusivo aos seus direitos básicos até a criação de barreiras para que exerçam atividades de forma independente. 

Além disso, outras formas de discriminação capacitista é tratar essas pessoas como incapazes, dependentes, sem voz própria para exprimir suas vontades. Também não devemos infantiliza-las, tratar como incapazes de compreender o mundo, um problema ou um serviço público, pressupor que sejam assexualizadas, inferiores ou que devam ser medicadas e afastadas do convívio comum dos demais cidadãos. 

 

O que podemos fazer?

Antes de presumir qualquer coisa, pergunte para a pessoa como ela prefere ser chamada. Há pessoas, por exemplo, que preferem ser chamadas de surdas do que deficiente auditivos ou DA. 

Repense palavras e expressões que ridicularizem pessoas com deficiência, como: “Você não tá vendo que tem uma caneca ao lado da mesa? Tá cego?”, “Ele é quase um anão”, “Você é retardado?”, “Fala mais alto, que sou surda”…

Ofensas e preconceitos não são piadas. Não propague o humor que ofende ou fere o outro.

 

 Termos capacitistas

  • Exemplo de superação

É comum vermos pessoas se referindo às pessoas com deficiência, inclusive aos atletas com deficiência, como um exemplo de superação. Esse termo é capacitista por considerar a deficiência da pessoa como algo que a define por completo e a impede de viver em sociedade, algo que precisa ser superado. E não é bem assim, a deficiência é uma característica. E no caso dos atletas de alto rendimento, é preciso muito treino para chegar a competições de alto nível. 

  • Portadores de necessidades especiais

A deficiência não é uma necessidade especial, é apenas uma das características da pessoa, que a permite vivenciar o mundo de outras formas. 

  • Mongol

Este termo carrega dois tipos de preconceito numa palavra só: apresenta uma forma de racismo contra as pessoas que nascem na Mongólia, país asiático, que não são portadores da Síndrome de Down ou de qualquer outra deficiência mais do que qualquer outro grupo étnico. Além disso, também há uma forte rejeição das pessoas portadoras da Síndrome de Down. Para evitar esse tipo de expressão, você pode substituir por deficiente intelectual. 

  • Incapacitado

A deficiência não impede a pessoa de ter uma vida plena e de contribuir com a sociedade, seja ela qual for, e por isso não devemos usar a palavra “incapacitado”. Portanto, ela pode ser substituída pela palavra deficiente. 

  • Inválido 

Este termo não deve ser usado pelos mesmos motivos pelos quais não devemos utilizar a palavra “incapacitado”,  já que a pessoa com deficiência não tem menor valor do que uma pessoa que não tem deficiência. Ela também pode ser substituída por “deficiente”.

  •  Ceguinho/mudinho ou outros termos no diminutivo

Não use o diminutivo para se referir a uma deficiência. Além de ofensivo, é uma forma de reduzir, incutir pena e até mesmo infantilizar a pessoa. Muitas vezes, a deficiência não impacta negativamente na vida da pessoa ou a incapacita. Ao se referir a uma pessoa com deficiência, utilize os termos em sua forma gramatical correta, como cego ou surdo.  

  • Usar a expressão “fingir demência”

A demência é um diagnóstico médico. Ela se refere às pessoas que vêm sofrendo ou sofreram um declínio geral das habilidades mentais, como o raciocínio, a memória ou a linguagem. Utilizar a expressão “fingir demência” é mais uma forma de capacitismo que deve ser evitada. Substitua por “se fingir de desentendido”.

  • Falar “deu uma de João-sem-braço”

Utilizar a expressão “dar uma de João-sem-braço” para se referir a alguém que se fingiu de desentendido para tirar vantagem em alguma situação também é uma forma de capacitismo. Essa expressão coloca as pessoas que não tem deficiência como melhores do que as pessoas com deficiência. Ela pode ser substituída por “se fez de desentendido”.

  • Falar que alguém está “muito autista”

A expressão acima, ao ser utilizada para definir um comportamento de ausência, distração e isolamento, é outro termo extremamente capacitista e preconceituoso. 

Usar o nome de um diagnóstico ou de uma característica física de forma pejorativa reforça estereótipos de que as pessoas com deficiência são incapazes, sem valor ou imperfeitas. 

  • Usar a expressão “que mancada”

Da mesma forma que na expressão anterior, não devemos usar a deficiência de alguém como um termo negativo.  Através da linguagem, também podemos mostrar que a deficiência não é uma caraterística que define a pessoa. 

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